terça-feira, 29 de dezembro de 2009

[...] Ou [.] ?

Lá estava ele oitenta e alguns tombos, não serei injusta foram mais tombos quanto mais agora! Mas é certo que também se levantou muitas vezes dessa escada que agora ele peleja em subir, na verdade, como o vejo, não sobe escada alguma, anda lentamente pelas ruas e também é lento seu olhar até porque, seus olhos custam a ver os velhos conhecidos e também os não conhecidos mas que desde que se entendem por gente o conhecem e reconhecem, dificuldade no andar, no falar, quando fala por vezes tosse uma tosse aguda e pensa em se retirar do local para que não incomode ninguém, mas logo: “incomodar? O mundo é que me incomoda, com sua velocidade e suas regras que me impõem limitações!” Mas a experiência o ensinou sobre paciência, com a qual percebe que a vida lhe sorriu outrora e que ainda lança olhares ternos a ele, de vez em quando, por isso segue, esperando algo que pode não tardar, mas que pode também demorar e somado as dores no seu corpo se tornar um sentimento de morte em vida.
Ao andar pela rua, não espera pena, e sim respeito, sabe sobre a mudança das eras, das gerações, a sente em nervos a flor da pele, sente a hostilidade da impaciente juventude e a rejeição muitas vezes vinda dos seus, é uma espécie de mix ambulante, aprendeu muitas coisas, em um certo intervalo de tempo, mas a sua inacessibilidade aos meios de transmissão do seu conhecimento impedem que ele o transfira, talvez até a mascara que agora jaz em sua face o afaste da atual geração impingindo em si um desuso, pois não está mais dentro do padrão aceitável é retrogrado, ultrapassado. Mas ainda assim consegue ver o mundo com calma.
Não trato de outra coisa senão de um idoso qualquer que vi andar pelas ruas, ele caminhava só, muitos já não podem fazer isso, não são coisas da idade são as durezas da vida, a forma como expusera seu corpo para a convivência, (sobrevivência é melhor) . Alguns já não apresentam os calos nas mãos e sim uma pele fina que a qualquer arranhão sangra, muitos tem diabetes e tantas outras... Eles choram, sorriem, tem lembranças, exceto pelos afetados pelo Alzheimer, viveram como cada um de nós, eles amaram, mas agora tem ainda desejos e um corpo fraco, mas uma alma rica. Muitos acabam ( ou terminam seu processo de definhamento) em asilos, que por mais humanos, acolhedores e outras “qualidades” tiram o idoso de seu lar, de seu mais de meio século de produção, e mesmo que seja por opção deles, é sim doloroso estar longe do que se viu construir e mais ainda saber que não se tem forças para manter, seja um bem material , ou a família, os poucos amigos que restam. Envelhecer é ganhar e perder! É ter conhecimento mas não ter tempo ou forças para usá-lo, é ter experiências de vida que encontram barreiras nas tentativas de serem transmitidas!
Envelhecer requer paciência, como no processo de aprender, assim como em todas as fases da vida, uma nova etapa com muitas barreiras, e como na infância, ou na adolescência ... é sempre aprender, é precisar de amparo! Por mais que se aprenda com a vida, as boas emoções são necessárias a vida toda e em toda ela se sofre com as más, o apoio a assistência podem tornar cada dia, não como uma espera para algo ruim, como o cair da escada da vida, mas como mais um degrau na escada vencida com persistência.

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